Caracterizada pela perda do discernimento da realidade, a esquizofrenia é uma doença que pode afetar até 1% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outro dado preocupante é que até 75% dos pacientes abandonam o tratamento porque não têm consciência do que é a esquizofrenia ou, simplesmente, não se aceitam com o diagnóstico.
Mas, como é feito o tratamento da Esquizofrenia? Qual é o papel da família na recuperação de uma pessoa com esquizofrenia? Quais são as últimas pesquisas relacionadas à esquizofrenia? Para falar mais sobre este assunto, a Equipe de Web Jornalismo do portal do Canal Minas Saúde conversou com o médico psiquiatra Dr. Leonardo Palmeira,
Há 12 anos, ele se dedica ao estudo do tratamento da esquizofrenia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de atuar como psiquiatra em consultório e prestar consultoria em relação ao tratamento da Esquizofrenia e diagnóstico da doença. Em 2009, ele lançou um livro “Entendendo a esquizofrenia” que deu origem a um portal de mesmo nome. Acompanhe a entrevista:
O que é a esquizofrenia e como a doença se manifesta?
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A esquizofrenia é uma doença mental cuja principal característica é a psicose, uma espécie de perda do juízo, no qual a pessoa não consegue distinguir a realidade da fantasia. O delírio mais comum é o que a pessoa acha que esta sendo monitorada, começa a escutar vozes, ter visões e gostos estranhos. Na parte clínica, dividimos os sintomas em dois tipos: os sintomas positivos e os sintomas negativos e a partir daí, começa o tratamento da Esquizofrenia.
Os sintomas positivos são, basicamente, os delírios e as alucinações. É também o sintoma de maior impacto no ambiente familiar e no social. Numa crise de surto, por exemplo, é até comum orientar as pessoas que estão próximas a não “ir contra”, para que ele não fique irritado ou se sinta acuado.
É importante lembrar de uma coisa: o que é o delírio? O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da realidade. Para a pessoa que tem esquizofrenia tudo que ela vê ou ouve, naquele momento, é real, daí a dificuldade de saber o que é fantasia do que é realidade.
Já no sintoma negativo o paciente é mais resistente ao tratamento da Esquizofrenia. O que se caracteriza por uma diminuição dos impulsos, da vontade de viver e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza condizente com a situação externa. É caracterizado pela falta de vontade, desmotivação, falta de afeto, dificuldade de expressar o que sente e possui uma certa indiferença à vida.
O grande desafio é fazer com que a pessoa com esquizofrenia perca os sintomas negativos, por isso a medicação somada à psicoterapia é fundamental para o sucesso do tratamento da Esquizofrenia.
Tratamento da esquizofrenia. Como se dá? O paciente consegue levar uma vida “normal”?
A pessoa com esquizofrenia tem sim, no início, uma certa dificuldade de aceitar a doença. Pesquisas apontam que até 75% dos pacientes abandonam o tratamento da Esquizofrenia porque não tem consciência do que é a esquizofrenia ou, simplesmente, não se aceita com o diagnóstico. Na verdade, é muito comum a pessoa não se perceber que tem esquizofrenia.
O diagnostico e o tratamento da Esquizofrenia não é dado numa primeira consulta. Geralmente, é avaliado como um surto ou uma psicose, na condição de oferecer um tratamento da Esquizofrenia para que o paciente não entre mais neste estado. A partir daí, começa um monitoramento desse paciente que pode levar de seis meses a um ano, inclusive com o apoio afetivo dos familiares, amigos ou de pessoas mais próximas. É preciso investigar muito bem, pedir exames e ouvir o paciente para fechar um diagnóstico preciso.
De qualquer maneira, é muito importante que a pessoa com esquizofrenia leve o tratamento da Esquizofrenia a sério, tomando os medicamentos de forma correta e, principalmente, fazendo a terapia para poder aceitar a si próprio e recuperar a autoestima. Em alguns casos, até é recomendado participar de terapia de grupo com outros pacientes ou com familiares de pacientes para a pessoa conseguir perceber que ela não é a única que está passando por isso e que é possível ter uma “vida normal”, trabalhando, estudando, namorando, se relacionando com outras pessoas.
E a família, como fica neste processo? Também é oferecido algum suporte psicológico?
Sem dúvida. Principalmente, durante o processo de investigação para o diagnóstico da esquizofrenia que pode até mesmo aflorar uma fragilidade familiar (ou individual) de lidar com a doença, estremecendo a base e o psicológico de cada um. E é daí que vem o preconceito, quando eu não sei sobre algo e faço um pré-julgamento. Por isso a família é tão importante no processo de tratamento da esquizofrenia, seja para dar apoio, seja para fortalecer o emocional do paciente, para mostrar que ninguém está sozinho.
Num primeiro momento é dado à família um material sobre o assunto e também é oferecido o tratamento de terapia em grupo. A família passa por um tratamento de psicoeducação para que ela possa compreender e lidar com o paciente de forma correta. O objetivo é, justamente, esse: fazer com que melhore o relacionamento dentro do núcleo familiar por meio do afeto, do carinho e do respeito mútuo.
A Esquizofrenia se manifesta mais em homens ou em mulheres? Existe uma idade em que os sintomas da doença são mais evidentes?
É igual para homem e mulher. O que acontece é que, clinicamente, aparecem mais casos masculinos dos 15 a 25 anos e mais casos femininos na faixa entre 25 a 35 anos. No geral é bem distribuído em ambos os sexos e não há uma predominância de gênero. Na verdade, o que acontece é que há mais casos de pessoas em idade produtividade.
A esquizofrenia é um estado de vulnerabilidade ao estresse. Geralmente, a doença aparece no momento de mais estresse na vida. É uma vulnerabilidade curiosa, não precisa acontecer uma catástrofe, pode ser a perda de um emprego, uma nota baixa na escola, uma perda de um ente querido, depende da vulnerabilidade de cada um. A doença é um estado transitório.
Em relação à esquizofrenia e as sequelas emocionais que ele traz ao paciente e aos familiares: como superar?
Isso é um ponto estratégico durante o tratamento da Esquizofrenia e que está relacionado a construção do bem estar emocional do paciente. No surto é muito difícil de mostrar a pessoa com esquizofrenia que ele não esta na realidade, que está lidando com algo fantasioso. E isso é um processo que é trabalhado dentro da psicoterapia comportamental, onde é ensinado ao paciente a criar estratégias e a lidar com os próprios sentimentos e vulnerabilidades.
É importante deixar bem claro que a esquizofrenia não começa no surto. É um estado que começa lá atrás na história de vida do paciente, uma dificuldade de relacionamento, um trauma, uma situação de estresse, de perda afetiva, em que a pessoa tem dificuldade de lidar com a sua própria emoção. Por isso a família é um ponto de apoio tão importante, juntamente com a escola, por serem ambientes afetivos no qual é possível perceber as dificuldades de emocionais e, se necessário, encaminhar para uma psicoterapia.
Na sua avaliação, como o filme “Uma Mente Brilhante” ajudou a dar um outro olhar sobre a esquizofrenia?
Não só na época em que ele foi lançado, mas, sobretudo, até hoje, não deixa de ser um filme sensível a questão da esquizofrenia e que pode ajudar muitas pessoas a entenderem mais sobre a doença, principalmente porque tira o estigma de que a pessoa com esquizofrenia possa ter alguma limitação intelectual.
Pelo contrário, o filme conta justamente a história de um homem que ganhou um prêmio Nobel em matemática e que conseguiu achar uma maneira particular de se conectar a realidade.
Como médico e pesquisador sobre a esquizofrenia, gostaria que o senhor falasse um pouco como estão as pesquisas em relação à doença?
Tem bastante coisa. Dentro da saúde mental é um dos campos mais pesquisados. Inclusive, tem pesquisa relacionada a medicamentos que vão tratar especificamente dos sintomas negativos e positivos, como por exemplo, pesquisas relacionadas aos receptores de butetamato e neurotransmissores.
Quem sabe em breve, uma única dose de medicamento intravenoso (por meio de injeção) será capaz de corresponder ao medicamento necessário durante um dado período do tratamento da Esquizofrenia pré-estabelecido pelo médico, o que ajudaria a resolver a questão de que alguns pacientes, por exemplo, deixam de tomar o medicamento por esquecimento ou por achar que está tudo bem e que não precisa mais de remédio.
O que temos hoje são pesquisas que acontecem em vários centros e, atualmente, os Estados Unidos lidera esse campo, principalmente no campo farmacológico. O Brasil faz uma pesquisa relacionando célula-tronco com a esquizofrenia. Consiste em refrigerar esta célula-tronco e transformá-la em neurônio, acompanhando como esta célula vai responder a este tratamento da Esquizofrenia com medicamento especifico e que possam atuar dentro do neurônio, e não só na parte externa de comunicação neurológica.
Aqui no Brasil, a neurociência tem feito muita coisa nesse sentido. Hoje se sabe, por exemplo, que a predisposição genética de risco de ter a esquizofrenia é de 8%, mas que também está relacionado a outros fatores que abrangem a predisposição social, a vulnerabilidade emocional e ao ambiente que a pessoa vive. Acontecem pesquisas o tempo todo e em muitos lugares. E a medida que a comunidade cientifica é apresentada a essas pesquisas o tratamento da Esquizofrenia vai evoluindo com o intuito de oferecer mais qualidade de vida. Muita coisa já mudou nos últimos anos.
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